Abri os olhos.
Não queria acreditar.
Estava no Mundo.
Estava sentado num banco de jardim numa qualquer cidade que não tinha como reconhecer.
O Mundo.
Deixei a palavra passear pela minha mente como que para me habituar a ela.
Após tanto tempo cá estava eu novamente. Desta vez não por minha vontade.
Tinha sido expulso. Exilado. Por crimes contra o Pai.
Só defendi o que acreditava e por isso fui castigado.
Banido sem hipótese de retorno.
Para sempre marcado como o inimigo.
O mundo.
Como tinha mudado desde a última vez.
Tudo era diferente do que recordava.
As construções eram megalómanas. Torres ascendiam aos céus desafiando tudo.
Os veículos moviam-se a uma velocidade incrível e as pessoas...
As pessoas eram maravilhosas. Exemplos perfeitos da criação.
Senti uma vontade enorme de me misturar com elas. De as sentir perto de mim. De comunicar com elas.
De repente apercebi-me que não fazia ideia se me seria possível envolver neste mundo.
Será que sabia a linguagem deste sítio onde me encontrava, foi a primeira dúvida que cruzou a minha mente.
Decidi levantar-me.
Quando o fiz quase caí. O meu centro de gravidade tinha mudado. Só aí senti a falta delas.
Tinha-as perdido aquando a minha viagem para o Mundo.
Na minha primeira viagem tinha-as mantido mas então não tinha sido expulso. Era um mensageiro e elas faziam parte da minha função.
Após um momento para me habituar a equilibrar dirigi-me as pessoas que se movimentavam na rua.
Deixei-me ouvir.
Absorvi as vozes e as palavras tentando reconhecer o que até este dia seria para mim automático.
Foi então que reparei na mulher que olhava na minha direcção do outro lado da rua.
Olhava na minha direcção mas não para mim.
O seu olhar era vazio, perdido num horizonte que só ela conseguia ver.
O vento agitava o seu cabelo ruivo que o sol que rilhava por entre as nuvens fazia parecer a chama de um fogo.
Embora vazios os seus olhos verdes emitiam um brilho hipnotizante.
Por momentos perdi-me nela. Perfeita.
Pensei em mim.
Como seria eu agora?
Será que mantinha o mesmo aspecto?
Será que o cabelo loiro comprido se mantinha ou teria sido alterado para algo mais deste mundo? Seria a minha pele ainda demasiado branca que parecia irradiar uma luz própria?
Tentei encontrar um espelho mas não havia nenhum.
Olhei de novo mas ela já não se encontrava lá.
E foi então que me apercebi.
Reconheci-a aquele olhar.
Já o tinha visto no rosto de tantos outros que não sabia como me poderia ter passado.
A única justificação era a mudança que tinha ocorrido em mim.
Mas agora que sabia não a poderia deixar avançar.
Tinha que a encontrar.
Corri para o lado do passeio em que ela se encontrava sem prestar atenção aos carros que buzinavam na minha direcção nem aos gritos, que não percebia, das pessoas no passeio.
Olhei para todos os lados e por pouco não apanhava o seu cabelo no meio da multidão que dobrava uma esquina.
Mais uma vez corri na sua direcção desta vez apanhando-a a entrar num dos edifícios que se disponha a tocar o céu.
Entrei no edifício e não a vi.
Mas sabia para onde se dirigia.
E foi para lá que também fui.
Quando cheguei ao topo do edifício estava cansado.
Era a primeira vez que me sentia assim mas lá estava ela.
O vento era mais forte aqui e o cabelo ruivo voava em todas as direcções como um fogo indomável.
Novamente, por breves momentos, perdi-me nela enquanto ela estudava como subir para o parapeito.
Perfeita.
Ela voltou-se como se tivesse ouvido o meu pensamento.
E falou.
Não sei o que disse mas sabia serem palavras de dor. Palavras de perda.
Sabia que tudo o que ela tinha por querido e amava lhe tinha sido tirado.
Mesmo sem entender as palavras sabia que não havia nada neste mundo que lhe desse esperança.
Queria morrer e eu entendia-a.
Dirigi-me a ela e ela fez-me um sinal para parar.
Parei e estendi os braços com as mãos abertas, palmas para cima.
Ela entendeu-me e fez sinal para me aproximar.
Pousei as minhas mãos nos ombros dela e olhamos nos olhos um do outro.
Vi lágrimas a escorrem dos olhos dela e senti que o mesmo acontecia comigo.
Ajudei-a a subir e subi eu em seguida.
Durante minutos que pareceram uma eternidade olhamos para o mesmo horizonte que cada um via à sua maneira.
Olhei para ela procurando os seus olhos e vi que ela fazia o mesmo.
Já não estavam vazios. Algo tinha nascido neles.
Demos as mãos e saltamos.
Fechei os olhos.
Acordei, de pé como sempre, no centro meu quarto.
As paredes brancas e imaculadas magoavam-me os olhos.
O sonho, ou visão, tinham-me mudado.
Lembrava-me dela e de tudo o que me tinha dito.
Lembrava-me dos olhos dela.
Havia uma razão para o que iria fazer. Eles não o mereciam.
Não mereciam as injustiças e a dor que lhes eram impostas.
Foi o meu primeiro pensamento de rebelião.
A primeira faísca de revolta.
Dirigi-me a janela que se abria no meu quarto.
Olhei a cidade que se estendia á minha frente em tons de prata.
Sabia o que tinha que fazer.
Saltei.
Sentia-as de novo e embora a sensação fosse boa sabia que embora fosse sentir a sua falta me iria habituar.
E então abri-as.
As penas esmeralda que formavam as minhas asas reluziam sob a luz prateada.
E voei.
Voei falando com todos os meus pares do que tinha visto.
O que achava ser necessário.
Sei que o dia está a chegar.
O dia em que vou ser expulso e renegado.
O dia em que a luz prateada do Pai não me vai iluminar mais.
O dia em que voltarei ao mundo.
O dia em que a vou ver de novo.
O dia em que, talvez, nos encontremos nos olhos um do outro e a nossa história tenha um final diferente.
Não queria acreditar.
Estava no Mundo.
Estava sentado num banco de jardim numa qualquer cidade que não tinha como reconhecer.
O Mundo.
Deixei a palavra passear pela minha mente como que para me habituar a ela.
Após tanto tempo cá estava eu novamente. Desta vez não por minha vontade.
Tinha sido expulso. Exilado. Por crimes contra o Pai.
Só defendi o que acreditava e por isso fui castigado.
Banido sem hipótese de retorno.
Para sempre marcado como o inimigo.
O mundo.
Como tinha mudado desde a última vez.
Tudo era diferente do que recordava.
As construções eram megalómanas. Torres ascendiam aos céus desafiando tudo.
Os veículos moviam-se a uma velocidade incrível e as pessoas...
As pessoas eram maravilhosas. Exemplos perfeitos da criação.
Senti uma vontade enorme de me misturar com elas. De as sentir perto de mim. De comunicar com elas.
De repente apercebi-me que não fazia ideia se me seria possível envolver neste mundo.
Será que sabia a linguagem deste sítio onde me encontrava, foi a primeira dúvida que cruzou a minha mente.
Decidi levantar-me.
Quando o fiz quase caí. O meu centro de gravidade tinha mudado. Só aí senti a falta delas.
Tinha-as perdido aquando a minha viagem para o Mundo.
Na minha primeira viagem tinha-as mantido mas então não tinha sido expulso. Era um mensageiro e elas faziam parte da minha função.
Após um momento para me habituar a equilibrar dirigi-me as pessoas que se movimentavam na rua.
Deixei-me ouvir.
Absorvi as vozes e as palavras tentando reconhecer o que até este dia seria para mim automático.
Foi então que reparei na mulher que olhava na minha direcção do outro lado da rua.
Olhava na minha direcção mas não para mim.
O seu olhar era vazio, perdido num horizonte que só ela conseguia ver.
O vento agitava o seu cabelo ruivo que o sol que rilhava por entre as nuvens fazia parecer a chama de um fogo.
Embora vazios os seus olhos verdes emitiam um brilho hipnotizante.
Por momentos perdi-me nela. Perfeita.
Pensei em mim.
Como seria eu agora?
Será que mantinha o mesmo aspecto?
Será que o cabelo loiro comprido se mantinha ou teria sido alterado para algo mais deste mundo? Seria a minha pele ainda demasiado branca que parecia irradiar uma luz própria?
Tentei encontrar um espelho mas não havia nenhum.
Olhei de novo mas ela já não se encontrava lá.
E foi então que me apercebi.
Reconheci-a aquele olhar.
Já o tinha visto no rosto de tantos outros que não sabia como me poderia ter passado.
A única justificação era a mudança que tinha ocorrido em mim.
Mas agora que sabia não a poderia deixar avançar.
Tinha que a encontrar.
Corri para o lado do passeio em que ela se encontrava sem prestar atenção aos carros que buzinavam na minha direcção nem aos gritos, que não percebia, das pessoas no passeio.
Olhei para todos os lados e por pouco não apanhava o seu cabelo no meio da multidão que dobrava uma esquina.
Mais uma vez corri na sua direcção desta vez apanhando-a a entrar num dos edifícios que se disponha a tocar o céu.
Entrei no edifício e não a vi.
Mas sabia para onde se dirigia.
E foi para lá que também fui.
Quando cheguei ao topo do edifício estava cansado.
Era a primeira vez que me sentia assim mas lá estava ela.
O vento era mais forte aqui e o cabelo ruivo voava em todas as direcções como um fogo indomável.
Novamente, por breves momentos, perdi-me nela enquanto ela estudava como subir para o parapeito.
Perfeita.
Ela voltou-se como se tivesse ouvido o meu pensamento.
E falou.
Não sei o que disse mas sabia serem palavras de dor. Palavras de perda.
Sabia que tudo o que ela tinha por querido e amava lhe tinha sido tirado.
Mesmo sem entender as palavras sabia que não havia nada neste mundo que lhe desse esperança.
Queria morrer e eu entendia-a.
Dirigi-me a ela e ela fez-me um sinal para parar.
Parei e estendi os braços com as mãos abertas, palmas para cima.
Ela entendeu-me e fez sinal para me aproximar.
Pousei as minhas mãos nos ombros dela e olhamos nos olhos um do outro.
Vi lágrimas a escorrem dos olhos dela e senti que o mesmo acontecia comigo.
Ajudei-a a subir e subi eu em seguida.
Durante minutos que pareceram uma eternidade olhamos para o mesmo horizonte que cada um via à sua maneira.
Olhei para ela procurando os seus olhos e vi que ela fazia o mesmo.
Já não estavam vazios. Algo tinha nascido neles.
Demos as mãos e saltamos.
Fechei os olhos.
Acordei, de pé como sempre, no centro meu quarto.
As paredes brancas e imaculadas magoavam-me os olhos.
O sonho, ou visão, tinham-me mudado.
Lembrava-me dela e de tudo o que me tinha dito.
Lembrava-me dos olhos dela.
Havia uma razão para o que iria fazer. Eles não o mereciam.
Não mereciam as injustiças e a dor que lhes eram impostas.
Foi o meu primeiro pensamento de rebelião.
A primeira faísca de revolta.
Dirigi-me a janela que se abria no meu quarto.
Olhei a cidade que se estendia á minha frente em tons de prata.
Sabia o que tinha que fazer.
Saltei.
Sentia-as de novo e embora a sensação fosse boa sabia que embora fosse sentir a sua falta me iria habituar.
E então abri-as.
As penas esmeralda que formavam as minhas asas reluziam sob a luz prateada.
E voei.
Voei falando com todos os meus pares do que tinha visto.
O que achava ser necessário.
Sei que o dia está a chegar.
O dia em que vou ser expulso e renegado.
O dia em que a luz prateada do Pai não me vai iluminar mais.
O dia em que voltarei ao mundo.
O dia em que a vou ver de novo.
O dia em que, talvez, nos encontremos nos olhos um do outro e a nossa história tenha um final diferente.
1 comentário:
Perdi-me completamente nas palavras. Muito bom.
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