A primeira vez que a vi não lhe prestei muita atenção.
Na verdade demorou até eu perceber que a rapariga que a noite em que me apaixonei por ela não tinha sido a primeira vez que a tinha visto.
Só mais tarde depois de muito pensar nela é que fiz a ligação entre a rapariga da recepção na embaixada e aquela outra rapariga de há tantas noites atrás.
Não havia diferença nenhuma nela.
O cabelo castanho escuro continuava longo e ondulado em contraste com a pele que continuava branca.
O vestido comprido em tons de preto e vermelho que trazia naquela primeira noite em que a vi tinha sido substituído por outro mais curto e inteiramente preto. Mas o estilo mantinha-se.
Confesso que me apaixonei por ela no momento em que a vi naquela sala, sem saber que não era a primeira vez que a via.
O pior é que ela se lembrava de mim.
Estava encostado a um canto a pensar que desculpa poderia ter para ir ter com ela quando a vi a vir na minha direcção.
Desculpa-me, disse ela, não nos conhecemos já?
Eu é que peço desculpa, respondi, mas não tenho muito boa memória para caras.
Não importa, disse ela com um sorriso nos lábios, pagas-me uma bebida e eu perdoo-te. Sou a Mara.
Foi aí que me apercebi o que me tinha chamado a atenção nela.
Os olhos dela eram penetrantes e profundos. Um olhar para eles e ficava-se perdido mesmo com uma sala inteira entre nós. E eu, que na primeira vez tinha ficado indiferente àquele mar que era o azul dos olhos dela, desta vez deixava-me levar e afogar na profundidade que eles possuíam.
Miguel, respondi passado um segundo que pareceu uma eternidade. E teria todo o gosto em pagar-te uma bebida, se estas se pagassem. Mas acompanho-te até ao bar com todo o prazer.
Sentados num sofá junto ao bar a festa deixou de existir.
Os convidados que circulavam pelo salão para serem vistos, os empregados que corriam de um lado para o outro com travessas com aperitivos, os barulhos da festa, tudo desapareceu à nossas volta até ficarmos só os dois.
O próprio salão da embaixada deu lugar aos sítios de que falávamos.
A viagem que ela tinha feito à Finlândia em Fevereiro, as duas noites que passou presa no aeroporto de Boston por causa de uma tempestade e que para ela tinha sido a pior experiencia de sempre. Falei-lhe do meu tempo como adido diplomático em Tel-Aviv, de quando em visita à Colombia por pouco não ia sendo capturado por um grupo de guerrilha não fosse a experiencia do nosso guia nessas situações.
Falamos de tudo o que as nossas vidas eram.
Livros que tínhamos gostado, filmes que tínhamos visto, concertos a que tínhamos ido.
Frequentávamos os mesmos sítios nas cidades em que já tínhamos estado os dois.
Tínhamos ido ao mesmo concerto há uns meses atrás em Berlim.
Chegamos à conclusão que tínhamos os mesmos gostos e que sim, seria possível já nos termos conhecido ou pelo menos encontrado.
À nossa volta a festa foi baixando de intensidade e as pessoas começaram a ir embora. Mas nós não nos demos conta.
O bar fechou e quando começaram a limpar a sala nós ainda estávamos no sofá a conversar.
As pessoas começaram a chegar para o pequeno almoço quando reparamos nas horas.
Tinha-me perdido nos olhos dela e não queria sair mais.
Saímos da embaixada e paramos à porta.
Até quando estás cá?, perguntou-me por fim.
Tenho voo para Haifa depois do almoço, disse.
É pena. Tenho mais dois dias aqui antes de voltar a Bruxelas., disse-me com um ar desiludido.
Podemos almoçar, se quiseres., disse-lhe.
Ela ficou pensativa por um momento.
Não posso, respondeu, tenho um almoço de negócios e não posso mesmo faltar.
Oh, suspirei.
Toma o meu cartão. Não podemos perder o contacto. Quem sabe não nos cruzaremos um dia destes..., disse ela.
Tirei-lhe o cartão da mão tocando-lhe suavemente na mão. Ela olhou para mim sorrindo e pondo-se na ponta dos pés encostou os lábios dela aos meus.
Até uma próxima vez.,disse enquanto virava costas.
Fiquei a olhar para ela enquanto descia a rua na direcção do hotel.
Tentei adiar a viagem mas assuntos importantes forçavam o meu regresso.
Passaram seis anos.
Fomos trocando mensagens, e-mails e postais dos sítios por onde passamos.
Encontramo-nos apenas três vezes depois desse dia e resultado é sempre o mesmo.
Ficamos presos nas histórias um do outro e as horas passam em minutos e depois chega o momento de regressar e, novamente, nos afastarmos.
Ainda assim sei que um dia nos vai ser possível ficar mais que umas horas juntos.
Até esse dia vou sonhar com ela e que me perco para sempre nela sem nunca ter que a abandonar.
E, acima de tudo, vou guardar na memória a calmaria e a emoção que é olhar para aquele mar azul que se esconde...
atrás dos seus olhos.
Na verdade demorou até eu perceber que a rapariga que a noite em que me apaixonei por ela não tinha sido a primeira vez que a tinha visto.
Só mais tarde depois de muito pensar nela é que fiz a ligação entre a rapariga da recepção na embaixada e aquela outra rapariga de há tantas noites atrás.
Não havia diferença nenhuma nela.
O cabelo castanho escuro continuava longo e ondulado em contraste com a pele que continuava branca.
O vestido comprido em tons de preto e vermelho que trazia naquela primeira noite em que a vi tinha sido substituído por outro mais curto e inteiramente preto. Mas o estilo mantinha-se.
Confesso que me apaixonei por ela no momento em que a vi naquela sala, sem saber que não era a primeira vez que a via.
O pior é que ela se lembrava de mim.
Estava encostado a um canto a pensar que desculpa poderia ter para ir ter com ela quando a vi a vir na minha direcção.
Desculpa-me, disse ela, não nos conhecemos já?
Eu é que peço desculpa, respondi, mas não tenho muito boa memória para caras.
Não importa, disse ela com um sorriso nos lábios, pagas-me uma bebida e eu perdoo-te. Sou a Mara.
Foi aí que me apercebi o que me tinha chamado a atenção nela.
Os olhos dela eram penetrantes e profundos. Um olhar para eles e ficava-se perdido mesmo com uma sala inteira entre nós. E eu, que na primeira vez tinha ficado indiferente àquele mar que era o azul dos olhos dela, desta vez deixava-me levar e afogar na profundidade que eles possuíam.
Miguel, respondi passado um segundo que pareceu uma eternidade. E teria todo o gosto em pagar-te uma bebida, se estas se pagassem. Mas acompanho-te até ao bar com todo o prazer.
Sentados num sofá junto ao bar a festa deixou de existir.
Os convidados que circulavam pelo salão para serem vistos, os empregados que corriam de um lado para o outro com travessas com aperitivos, os barulhos da festa, tudo desapareceu à nossas volta até ficarmos só os dois.
O próprio salão da embaixada deu lugar aos sítios de que falávamos.
A viagem que ela tinha feito à Finlândia em Fevereiro, as duas noites que passou presa no aeroporto de Boston por causa de uma tempestade e que para ela tinha sido a pior experiencia de sempre. Falei-lhe do meu tempo como adido diplomático em Tel-Aviv, de quando em visita à Colombia por pouco não ia sendo capturado por um grupo de guerrilha não fosse a experiencia do nosso guia nessas situações.
Falamos de tudo o que as nossas vidas eram.
Livros que tínhamos gostado, filmes que tínhamos visto, concertos a que tínhamos ido.
Frequentávamos os mesmos sítios nas cidades em que já tínhamos estado os dois.
Tínhamos ido ao mesmo concerto há uns meses atrás em Berlim.
Chegamos à conclusão que tínhamos os mesmos gostos e que sim, seria possível já nos termos conhecido ou pelo menos encontrado.
À nossa volta a festa foi baixando de intensidade e as pessoas começaram a ir embora. Mas nós não nos demos conta.
O bar fechou e quando começaram a limpar a sala nós ainda estávamos no sofá a conversar.
As pessoas começaram a chegar para o pequeno almoço quando reparamos nas horas.
Tinha-me perdido nos olhos dela e não queria sair mais.
Saímos da embaixada e paramos à porta.
Até quando estás cá?, perguntou-me por fim.
Tenho voo para Haifa depois do almoço, disse.
É pena. Tenho mais dois dias aqui antes de voltar a Bruxelas., disse-me com um ar desiludido.
Podemos almoçar, se quiseres., disse-lhe.
Ela ficou pensativa por um momento.
Não posso, respondeu, tenho um almoço de negócios e não posso mesmo faltar.
Oh, suspirei.
Toma o meu cartão. Não podemos perder o contacto. Quem sabe não nos cruzaremos um dia destes..., disse ela.
Tirei-lhe o cartão da mão tocando-lhe suavemente na mão. Ela olhou para mim sorrindo e pondo-se na ponta dos pés encostou os lábios dela aos meus.
Até uma próxima vez.,disse enquanto virava costas.
Fiquei a olhar para ela enquanto descia a rua na direcção do hotel.
Tentei adiar a viagem mas assuntos importantes forçavam o meu regresso.
Passaram seis anos.
Fomos trocando mensagens, e-mails e postais dos sítios por onde passamos.
Encontramo-nos apenas três vezes depois desse dia e resultado é sempre o mesmo.
Ficamos presos nas histórias um do outro e as horas passam em minutos e depois chega o momento de regressar e, novamente, nos afastarmos.
Ainda assim sei que um dia nos vai ser possível ficar mais que umas horas juntos.
Até esse dia vou sonhar com ela e que me perco para sempre nela sem nunca ter que a abandonar.
E, acima de tudo, vou guardar na memória a calmaria e a emoção que é olhar para aquele mar azul que se esconde...
atrás dos seus olhos.
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