sábado, 8 de outubro de 2011

Untitled

Esta cresceu do nada. Se escrevi alguma coisa que possa dizer que não sabia onde ia acabar é esta.
A história foi evoluindo para além do meu controlo e há partes que acho que passaram directamente da cabeça para o ecrã (esta foi das poucas escritas directamente no computador) porque não me lembro de as escrever.

Há muito que pensava usar uma mulher de vermelho numa história (não que tenha algum sentido especial) mas a presença dela aqui até a mim me surpreendeu.
Quem sabe não haja mais mulheres de vermelho num futuro próximo.

Olho à minha volta.
O bar está escuro e as poucas pessoas presentes estão atentas à sua vida e não à pessoa do lado.
Todas menos uma.
Os seus olhos não descolaram de mim desde que me trouxe a cerveja que lhe tinha pedido.

O tempo passa.
Sinto alguém a aproximar-se e levanto os olhos  do copo.
Ela pousa duas cervejas na mesa, ao lado do meu copo ainda cheio.
Não pedi nada, digo.
Eu sei, responde-me enquanto se senta, mas achei que olhar durante duas horas para o mesmo copo deve ser entediante. Nem gás tem já.
Olho para ela directamente, pela primeira vez.
Tem olhos castanhos assim como o cabelo. Veste um vestido vermelho.
Mas, como podes ver trouxe duas. Talvez com companhia te sintas mais tentado a beber.
Pega num dos copos e bebe um golo. Ao pousa-lo novamente na mesa faz um gesto na direcção do outro copo que trouxe.
Não bebes? É um desperdício de cerveja. E boa companhia.
Pego no copo e bebo um golo.

Do nada reparo que passaram horas e que não parei de falar.
Abri a minha alma para ela e revelei tudo o que era.
Todos os meus problemas, preocupações e esperanças.
Em algum momento devo ter chorado pois tinha um lenço na mão que ela me tinha dado.
Enquanto falava fui-me apercebendo de detalhes sobre ela.
O seu cheiro sobrepunha-se a todos os outros. O cheiro a fumo, a cerveja eram substituídos subtilmente por um cheiro só dela, um cheiro suave e ainda assim tão marcante.
O tom de pele, a textura suave que se sentia mesmo sem tocar.
Tudo nela se revelava também para mim.

Levanta-se e olha para mim.
Ainda bem que falaste. Estavas mesmo a precisar.
Vira costas e começa a dirigir-se à porta.
Espera, quase que grito, achas que nos voltamos a ver?
Sem dúvida, diz-me suavemente, claro que sim.
Mas nem sei o teu nome, digo enquanto ela sai em direcção à madrugada.

Saio também mas já não a vejo.
As ruas estão desertas.
Decido ir para casa a pé, o ar vai-me fazer bem.
Vou tão perdido em pensamentos e na mulher de olhos castanhos e vestido vermelho que nem sinto quando o carro me bate.

Estou deitado no chão.
Não está ninguém ao meu lado e sinto a vida a fugir.
Ouço uma voz na minha orelha a dizer-me para não ter medo.
A mesma voz diz para lhe dar a mão e ir com ela.
Eu vou.
Olho para trás e vejo-me deitado no chão numa poça de sangue.
Viro-me e vejo-a.
Ela sorri.
Eu disse que nos víamos outra vez, diz a mulher de vermelho.
E eu sorrio também.


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