sábado, 15 de outubro de 2011

The wolfman stole my baby


Esta história andava perdida na minha cabeça.
A ideia veio de uma música de Frankenstein Drag Queens From Planet 13.

A loja de armas estava envolta em penumbra.
O velho atrás do balcão observa o indivíduo de barba com suspeita.
Não sentia medo.
Como podia sentir medo se a única arma com balas na loja era a caçadeira que tinha debaixo do balcão?
Apenas estava curioso com ele. A maneira como se movia e como olhava as armas na parede, a dor e certeza que tinha nos olhos.
O homem pega numa caçadeira da parede.
Uma arma própria para caça grossa, uma arma que não era para qualquer um.
Pousa-a em cima do balcão e aponta para uma faca no expositor.
- Aquela faca. E aquele revolver também. – e após uma pequena pausa – Por favor.
- Quer balas? – diz o velho.
- Balas? – responde, como se tivesse sido apanhado de surpresa.
Claro que uma arma precisa de balas, pensa.
- Sim, vou precisar. – diz nervosamente. – Mas…
- Diga lá. É a primeira vez? Não tenha problemas.
- Não é que… É um pedido estranho. Precisava de… Balas de prata.
O olhar do velho questiona-o antes mesmo de responder.
- Balas de prata? – pergunta.
- Bem, - diz o homem – é melhor começar do inicio.

- Eu e a minha namorada tínhamos chegado de uma viagem nos Estados Unidos que tinha sido um bocado problemática. Tivemos problemas com o Ku Klux Klan e ela acabou por ser raptada, mas isso é outra história e ficou resolvida.
Mas como dizia, tínhamos chegado dos Estados Unidos e decidimos fazer uma viagem pelo interior.
Estávamos numa aldeia bastante acolhedora e após falarmos com alguns dos habitantes decidimos que seria uma boa ideia deixar o carro e fazermos uma caminhada pela montanha e acamparmos durante um dia ou dois antes de voltarmos a seguir viagem.
Assim fizemos e numa quinta de manha partimos em direcção à montanha com a tenda e mantimentos para a caminhada.
O primeiro dia correu bem. Estava um tempo agradável e em algumas horas estávamos no sopé da montanha. Decidimos procura um sitio para acampar junto a um rio. E quando a noite chegou estávamos ambos bastante animados.
Estávamos, deitados sob as estrelas, a fazer planos para o dia seguinte quando o céu começou a escurecer.
Mal tínhamos entrado na tenda quando a chuva começou.
Primeiro uma chuva leve, uma chuva de verão que de certeza logo passaria.
Mas passado pouco tempo transformou-se numa tempestade terrível. Como a tenda não voou foi simplesmente um milagre, tal era a força do vento.
Na manha seguinte sob uma chuva forte arrumamos as coisas e partimos de volta à aldeia.
Mas tal era a tempestade que nos acabamos por perder.
Ao fim de umas horas avistamos um vulto no meio da chuva.
Apressadamente dirigimo-nos a ele na esperança que nos pudesse prestar apoio.
O vulto revelou-se ser de um homem de meia-idade que se ofereceu imediatamente para ajudar.
Levou-nos para uma pequena cabana de caça onde nos explicou que enquanto a tempestade não passasse não seria possível voltarmos à aldeia visto o caminho ser complicado nessas condições.
Mas tínhamos comida e um sítio onde estávamos protegidos do tempo e sentíamo-nos seguros.
O homem, Aldo era o seu nome, era um caçador e estava habituado a este tipo de situações. E era ele que se aventurava a sair da cabana para ver as condições do caminho de volta à aldeia.
Só havia uma coisa que me deixava de pé atrás.
A proximidade que criou com a minha namorada.
Sempre que estávamos juntos Aldo fazia questão de estar perto dela e várias vezes o vi a sussurrar-lhe coisas ao ouvido sem nunca conseguir perceber o que lhe dizia.
E em certa altura admitiu que era a mulher mais interessante que já tinha visto.
Uma tarde ele saiu para ver como estavam os caminhos mas ao contrário do que era normal não voltou antes do cair da noite.
Nessa noite não dormi, num misto de preocupação e medo.
Estava quase a amanhecer e foi então que o vi.
Um lobo enorme dirigia-se à cabana. Tinha pelo cinzento e a boca manchada de sangue.
E, perante os meus olhos, o lobo começou a transformar-se.
Em segundos não era mais um lobo mas um homem.
Sim, era o Aldo.
De imediato deitei-me e fiz de conta que dormia.
Quando ouvi a porta a abrir simulei acordar.
Aldo desculpou a sua ausência dizendo que teve que se abrigar numa gruta durante a noite por causa da tempestade.
Durante toda a manha só pensava em como fugir àquele monstro.
Mas de alguma maneira ele sabia.
Acordei e o sol estava a pôr-se. A minha cabeça andava à roda. Tinha-me drogado.
Nem ele nem a minha namorada estavam na cabana.
A tempestade acalmou passado dois dias e consegui com alguma dificuldade chegar à aldeia mas ninguém sabia a quem me referia quando falei do homem que tinha encontrado na montanha.
E é esta a história que me trouxe aqui. A história de como o lobisomem me levou a namorada.

O velho olhou-o com um ar surpreendido.
- Bem amigo quanto às balas de prata não o posso ajudar mas talvez… Espere um momento. – e dirigiu-se a uma vitrine do outro lado da loja.
De lá tirou uma bolsa em couro e pousou-a no balcão.
Abriu-a e tirou de lá uma faca com cabo em madre pérola.
- Prata pura – disse – se o conseguir parar com as balas normais pode terminar o trabalho com isto. É oferta.
Observou-o a sair da loja e ficou a imaginar que histórias o homem teria para contar da próxima vez…

sábado, 8 de outubro de 2011

Untitled

Esta cresceu do nada. Se escrevi alguma coisa que possa dizer que não sabia onde ia acabar é esta.
A história foi evoluindo para além do meu controlo e há partes que acho que passaram directamente da cabeça para o ecrã (esta foi das poucas escritas directamente no computador) porque não me lembro de as escrever.

Há muito que pensava usar uma mulher de vermelho numa história (não que tenha algum sentido especial) mas a presença dela aqui até a mim me surpreendeu.
Quem sabe não haja mais mulheres de vermelho num futuro próximo.

Olho à minha volta.
O bar está escuro e as poucas pessoas presentes estão atentas à sua vida e não à pessoa do lado.
Todas menos uma.
Os seus olhos não descolaram de mim desde que me trouxe a cerveja que lhe tinha pedido.

O tempo passa.
Sinto alguém a aproximar-se e levanto os olhos  do copo.
Ela pousa duas cervejas na mesa, ao lado do meu copo ainda cheio.
Não pedi nada, digo.
Eu sei, responde-me enquanto se senta, mas achei que olhar durante duas horas para o mesmo copo deve ser entediante. Nem gás tem já.
Olho para ela directamente, pela primeira vez.
Tem olhos castanhos assim como o cabelo. Veste um vestido vermelho.
Mas, como podes ver trouxe duas. Talvez com companhia te sintas mais tentado a beber.
Pega num dos copos e bebe um golo. Ao pousa-lo novamente na mesa faz um gesto na direcção do outro copo que trouxe.
Não bebes? É um desperdício de cerveja. E boa companhia.
Pego no copo e bebo um golo.

Do nada reparo que passaram horas e que não parei de falar.
Abri a minha alma para ela e revelei tudo o que era.
Todos os meus problemas, preocupações e esperanças.
Em algum momento devo ter chorado pois tinha um lenço na mão que ela me tinha dado.
Enquanto falava fui-me apercebendo de detalhes sobre ela.
O seu cheiro sobrepunha-se a todos os outros. O cheiro a fumo, a cerveja eram substituídos subtilmente por um cheiro só dela, um cheiro suave e ainda assim tão marcante.
O tom de pele, a textura suave que se sentia mesmo sem tocar.
Tudo nela se revelava também para mim.

Levanta-se e olha para mim.
Ainda bem que falaste. Estavas mesmo a precisar.
Vira costas e começa a dirigir-se à porta.
Espera, quase que grito, achas que nos voltamos a ver?
Sem dúvida, diz-me suavemente, claro que sim.
Mas nem sei o teu nome, digo enquanto ela sai em direcção à madrugada.

Saio também mas já não a vejo.
As ruas estão desertas.
Decido ir para casa a pé, o ar vai-me fazer bem.
Vou tão perdido em pensamentos e na mulher de olhos castanhos e vestido vermelho que nem sinto quando o carro me bate.

Estou deitado no chão.
Não está ninguém ao meu lado e sinto a vida a fugir.
Ouço uma voz na minha orelha a dizer-me para não ter medo.
A mesma voz diz para lhe dar a mão e ir com ela.
Eu vou.
Olho para trás e vejo-me deitado no chão numa poça de sangue.
Viro-me e vejo-a.
Ela sorri.
Eu disse que nos víamos outra vez, diz a mulher de vermelho.
E eu sorrio também.